quarta-feira, 13 de julho de 2011

UMA ENCRUZILHADA PERIGOSA

Há algo de profundamente errado na maneira como vivemos hoje, afirmou Tony Judt, no início de sua obra “O mal ronda a Terra”. Sustentou o falecido historiador inglês que ao longo dos últimos 30 anos a busca por bens materiais, no interesse pessoal, foi considerada uma virtude e que esta própria busca é o que ainda nos resta do nosso sentimento de grupo.Na verdade esse erro tem uma data mais longa e remonta ao Iluminismo que no seu processo mais aprofundado gerou o que chamamos de modernidade, entendendo-a como a dessacralização e racionalização das visões de mundo substituindo-as por valores diversos que antes estavam circunscritos à religião. Cabe destacar que alguns autores alongam ainda mais este tempo ao chamar de “tempos modernos” aqueles que excluem a Antiguidade a partir de 1453, com a queda de Constantinopla.
Entretanto, o que fica evidente é a formação de um antagonismo entre o antigo e o moderno e nasce a ideia de que era possível o homem moderno chegar ao conhecimento e à felicidade sem a necessidade da tutela de um Criador. Houve uma ruptura com a Tradição. Saímos do teocentrismo para o antropocentrismo.
Havia um entendimento de que a felicidade estava compreendida pela prosperidade material e pelo progresso das ciências. Ocorre que está questão retornou ao debate filosófico diante do esgotamento das respostas pelas ciências naturais e humanas.
As decepções em relação às promessas da modernidade iniciam pelo seu discurso científico do século VIII. Nota-se que embora com a evolução da ciência esta nada tem a dizer em relação à vida, seu valor e também à realização espiritual. Também as ciências políticas que avocaram para si encaminhar a felicidade coletiva redundaram nos totalitarismos do século XX. O discurso moral também faliu, pois ele tornou individual e opcional redundando no individualismo e no hedonismo que caracterizam nossas sociedades.
Essa situação esta levando muitos pensadores a indagar se estamos indo “Rumo ao Abismo?”, como Edgar Morin que sustenta que a crise da modernidade tem seu começo na problematização nascida e aprofundada pela própria modernidade que se voltava para Deus, a natureza e o exterior agora se volta para a própria modernidade. Embora ela tenha produzido novos saberes, que revolucionaram o conhecimento, simultaneamente, se desenvolveram capacidades gigantescas de morte.
Na mesma esteira vamos encontrar Gilles Lipovetsky que afirma que tínhamos uma modernidade dilacerada e limitada e agora temos uma modernidade consolidada e reconciliada consigo mesma e seus princípios fundadores, caracterizando o que chama da hipermodernidade numa segunda fase do individualismo, o individualismo total.
Em outros termos, e nova percepção, Bauman vai nos falar da mudança da modernidade sólida, baseada num conjunto estável de valores, modo de vida cultural e político, para uma modernidade líquida onde tudo é volátil, seja a vida em conjunto como familiar, casais, amigos e afinidades políticas.
O que vemos é que a crise do moderno e do pós-moderno nada mais é do que a crise do próprio homem. Essa crise passa necessariamente pela perda de Deus no horizonte da história. A perigosa encruzilhada é o homem optar por trilhar o caminho das soluções para a sua felicidade em si mesmo. Encontrar o caminho correto não é voltar-se apenas para o sagrado, mas para Deus. Como diz São Paulo em Atos 17, 20 “In ipso enim vívimos et movemur et sumus” (De fato, é nEle que vivemos, nos movemos e existimos).

(texto de José Antonio, originalmente publicado em
http://www.mundoalegraivos.com/2011/06/uma-encruzilhada-perigosa.html)

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