quarta-feira, 20 de julho de 2011

DO PROF. IVES GANDRA

Branco, honesto, contribuinte, eleitor, hetero... Pra quê?
Ives Gandra da Silva Martins
Hoje, tenho eu a impressão de que o "cidadão comum e branco" é agressivamente discriminado pelas autoridades e pela legislação infraconstitucional, a favor de outros cidadãos, desde que sejam índios, afrodescendentes, homossexuais ou se autodeclarem  pertencentes a minorias submetidas a possíveis preconceitos.
Assim é que, se um branco, um índio e um afrodescendente tiverem a mesma nota em um vestibular, pouco acima da linha de corte para ingresso nas Universidades e as vagas forem limitadas, o branco será excluído, de imediato, a favor de um deles! Em igualdade de condições, o branco é um cidadão inferior e deve ser discriminado, apesar da Lei Maior.
Os índios, que, pela Constituição (art. 231), só deveriam ter direito às terras que ocupassem em 5 de outubro de 1988, por lei  infraconstitucional passaram a ter direito a terras que ocuparam no passado. Menos de meio milhão de índios brasileiros - não contando os argentinos, bolivianos, paraguaios, uruguaios que pretendem ser beneficiados também - passaram a ser donos de 15% do território  nacional, enquanto os outros 185 milhões de habitantes dispõem apenas de 85% dele.. Nessa exegese equivocada da Lei Suprema, todos os brasileiros não-índios foram discriminados.
Aos 'quilombolas', que deveriam ser apenas os descendentes dos participantes de quilombos, e não  os afrodescendentes, em geral, que vivem em torno daquelas antigas comunidades,  tem sido destinada, também, parcela de território consideravelmente maior do que a Constituição permite (art. 68 ADCT), em clara discriminação ao cidadão que não se enquadra nesse conceito.
Os homossexuais obtiveram do Presidente Lula e da Ministra Dilma  Roussef o direito de ter um congresso financiado por dinheiro público, para realçar as suas tendências -algo que um cidadão comum jamais conseguiria!
Os invasores de terras, que violentam, diariamente, a Constituição, vão passar a ter aposentadoria, num  reconhecimento explícito de que o governo considera, mais que legítima, meritória a conduta consistente  em agredir o direito. Trata-se de clara discriminação em relação ao cidadão comum, desempregado, que não tem esse 'privilégio', porque  cumpre a lei.
Desertores, assaltantes de bancos e assassinos, que, no passado, participaram da guerrilha, garantem a seus descendentes polpudas indenizações, pagas pelos contribuintes brasileiros. Está, hoje, em torno de 4 bilhões de reais o que é retirado dos pagadores de tributos para 'ressarcir' aqueles que resolveram pegar em armas contra o governo militar ou se disseram perseguidos.
E são tantas as discriminações, que é de perguntar: de que vale o inciso IV do art. 3º ("promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação") da Lei Suprema?
Como modesto advogado, cidadão comum e branco, sinto-me discriminado e cada vez com menos espaço, nesta terra de castas e privilégios.
(Ives Gandra da Silva Martins é renomado professor emérito das universidades Mackenzie e UNIFMU e presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

DONA MORTE EM UM DIA DE ABRIL

MAURICIO DE SOUZA HOMENAGEIA KAROL WOJTYLA
(http://www.monica.com.br/historias-antologicas/papa)


A TENTAÇÃO TOTALITÁRIA

Luiz Felipe Pondé 
Folha de SP – 18.07.2011
VOCÊ se considera uma pessoa totalitária? Claro que não, imagino. Você deve ser uma pessoa legal, somos todos.
Às vezes, me emociono e choro diante de minhas boas intenções e me pergunto: como pode existir o mal no mundo? Fossem todos iguais a mim, o mundo seria tão bom... (risadas).
Totalitários são aqueles skinheads que batem em negros, nordestinos e gays.
Mas a verdade é que ser totalitário é mais complexo do que ser uma caricatura ridícula de nazista na periferia de São Paulo.
A essência do totalitarismo não é apenas governos fortes no estilo do fascismo e comunismo clássicos do século 20.
Chama minha atenção um dado essencial do totalitarismo, quase sempre esquecido, e que também era presente nos totalitarismos do século 20.
Você, amante profundo do bem, sabe qual é? Calma, chegaremos lá.
Você se lembra de um filme chamado "Um Homem Bom", com Viggo Mortensen, no qual ele é um cara legal, um professor universitário não simpatizante do nazismo (o filme se passa na Alemanha nazista), e que acaba sendo "usado" pelo partido?
Pois bem. Neste filme, há uma cena maravilhosa, entre outras. Uma cena num parque lindo, verde, cheio de árvores (a propósito, os nazistas eram sabidamente amantes da natureza e dos animais), famílias brincando, casais se amando, cachorros correndo, até parece o Ibirapuera de domingo.
Aliás, este é um dos melhores filmes sobre como o nazismo se implantou em sua casa, às vezes, sem você perceber e, às vezes, até achando legal porque graças a ele (o partido) você arrumaria um melhor emprego e mais estabilidade na vida.
Fosse hoje em dia, quem sabe, um desses consultores por aí diria, "para ter uma melhor qualidade de vida".
E aí, a jovem esposa do professor legal (ele acabara de trocar sua esposa de 40 anos por uma de 25 -é, eu sei, banal como a morte) o puxa pelo braço querendo levá-lo para o comício do partido que ia rolar naquele domingão no parque onde as famílias iam em busca de uma melhor qualidade de vida.
Mas ele não tem nenhuma vontade de ir para o comício porque sente um certo "mal-estar" com aquilo tudo. Mas ela, bonita, gostosa, loira, jovem e apaixonada (não se iluda, um par de pernas e uma boca vermelha são mais fortes do que qualquer "visão política de mundo"), diz: "meu amor, tanta gente junta querendo o bem não pode ser tão mal assim".
É, meu caro amante do bem, esta frase é uma das melhores definições do processo, às vezes invisível, que leva uma pessoa a ser totalitária sem saber: "quero apenas o bem de todos".
Aí está a característica do totalitarismo que sempre nos escapa, porque ficamos presos nas caricaturas dos skinheads: aquelas pessoas, sim, se emocionavam e choravam diante de tanta boa vontade, diante de tanta emoção coletiva e determinação para o bem.
Esquecemos que naqueles comícios, as pessoas estavam ali "para o bem".
Se você tem absoluta certeza que "você é do bem", cuidado, um dia você pode chorar num comício achando que aquilo tudo é lindo e em nome de um futuro melhor.
E se essa certeza vier acompanhada de alguma "verdade cientifica" (como foi comum nos totalitarismos históricos) associada a educadores que querem "fazer seres humanos melhores" (como foi comum nos totalitarismos históricos) e, finalmente, se tiver a ambição política, aí, então, já era.
Toda vez que alguém quiser fazer um ser humano melhor, associando ciência (o ideal da verdade), educação (o ideal de homem) e política (o ideal de mundo), estamos diante da essência do totalitarismo.
O que move uma personalidade totalitária é a certeza de que ela está fazendo o "bem para todos", não é a vontade de destruir grupos diferentes do dela.
Primeiro vem a certeza de si mesmo como agente do "bem total", depois você vira autoritário em nome desse bem total.
O melhor antídoto para a tentação do totalitarismo não é a certeza de um "outro bem", mas a dúvida acerca do que é o bem, aquilo que desde Aristóteles chamamos de prudência, a maior de todas as virtudes políticas.
Não confio em ninguém que queira criar um homem melhor. 

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Desde pequeno...









De Quino (criador de Mafalda)

JANTARES INTELIGENTES

LUIZ FELIPE PONDÉ, na Folha

VOCÊ JÁ foi a um jantar inteligente? Jantares inteligentes são frequentados por psicanalistas, artistas plásticos, músicos, atores, jornalistas, publicitários (com a condição de falar mal da publicidade), médicos (esses porque, como é sempre chique ser médico, não se dispensa médicos nunca), produtores, "videomakers", antropólogos, sociólogos, historiadores, filósofos.
Administrador de empresa não pega bem (a menos que tenha um negócio sustentável). Engenheiros, coitados, só vão se forem casados com psicanalistas que traduzem pra eles esse mundo de gente inteligente. Advogados podem ir porque é sempre necessário um cínico inteligente em qualquer lugar. Pedagogas, só se casadas com esses advogados e por isso talvez consigam bancar amizades chiques assim.
Ricos são sempre bem-vindos apesar de gente inteligente fingir que não gosta de dinheiro. Pobre só se for na cozinha, mas são super bem tratados. Claro, tem que ter um amigo gay feliz.
Essa gente é descoladíssima. Seus filhos estudam em escolas de esquerda, claro, do tipo que discute o modelo cubano de economia a R$ 2 mil por mês.
Quando viajam ficam em lugares que reúne natureza "pura", tradição (apenas como "tempero do ambiente") e pouca gente (apesar de jurarem ser a favor da democracia para todos, só gostam de passar férias onde o "povo" não vai).
Detalhe: é essencial achar todo mundo "ridículo" porque isso faz você se sentir mais inteligente, claro.
Quanto à religião, católica nem pensar. Evangélicos, um horror. Espírita? Coisa de classe média baixa. Budista, cai muito bem. Judaica? Uma mãe judia deixa qualquer um chique de matar de inveja. Judaísmo não é religião, é grife.
Mas o que me encanta mesmo são as "atitudes" que se deve ter para se frequentar jantares inteligentes assim. Claro, não se aceita qualquer um num jantar no qual papo cabeça é o antepasto.
Quer saber a lista de preconceitos que pessoas inteligentes têm? Qualquer um desses "gestos" abaixo você pode ter, que pega bem com comida vietnamita ou peruana.
1) A Igreja Católica é um horror e o papa Bento 16 é atrasadíssimo. Claro que não vale ter lido de fato nada do que ele escreveu;
2) Matar Osama bin Laden sem julgamento foi um ato de violência porque terroristas são pessoas boazinhas que querem negociar a paz em meio a criancinhas;
3) Ter ciúmes é coisa de gente mal resolvida;
4) Se algum dia um gay lhe cantar e você se sentir mal com isso, você precisa rever seus conceitos porque gente inteligente nunca tem mal-estar com coisas assim;
5) Se seu filho for mal na escola, minta. Se alguém descobrir, ponha a culpa na professora, que é mal preparada pra lidar com crianças como seus filhos, que se preocupam com as baleias já aos 11 anos e discutem a África no Twitter;
6) Caso leve seus filhos à Disney, não conte a ninguém, pelo amor de Deus!;
7) Acima de tudo, abomine os Estados Unidos, ache Obama ótimo e vá à Nova York porque Nova York "não são os Estados Unidos";
8) Não seja muito simpático com ninguém porque gente simpática é gente carente e gente assim procura "eye contact" em festas. Um conselho: olhe sempre para um ponto no horizonte. Assim, se alguém falar com você, ela é que é carente;
9) Ache uma situação para dizer que você conhece uma cidadezinha no sul da Itália e lá ficou hospedado na casa de uma amiga brasileira casada com um italiano que defende o direito dos imigrantes africanos e odeia Silvio Berlusconi;
10) O ideal seria se você tivesse passaporte italiano também;
11) Se alguém falar pra você que não dá para pagar direitos sociais e médicos para imigrantes ilegais na Europa, considere essa pessoa um "reacionário de direita", mesmo que você não aceite sustentar alguém que não seja você mesmo e sua família (no caso da família nem sempre, claro);
12) No conflito israelo-palestino, não tenha dúvida, seja contra Israel, mesmo que morra de medo de ir lá e não tenha lido uma linha sequer sobre a história do conflito;
13) Se você se sentir mal com a legalização do aborto, minta;
14) Deixe transparecer que só os outros transam pouco;
15) Seja ateu, mas blasé.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

UMA ENCRUZILHADA PERIGOSA

Há algo de profundamente errado na maneira como vivemos hoje, afirmou Tony Judt, no início de sua obra “O mal ronda a Terra”. Sustentou o falecido historiador inglês que ao longo dos últimos 30 anos a busca por bens materiais, no interesse pessoal, foi considerada uma virtude e que esta própria busca é o que ainda nos resta do nosso sentimento de grupo.Na verdade esse erro tem uma data mais longa e remonta ao Iluminismo que no seu processo mais aprofundado gerou o que chamamos de modernidade, entendendo-a como a dessacralização e racionalização das visões de mundo substituindo-as por valores diversos que antes estavam circunscritos à religião. Cabe destacar que alguns autores alongam ainda mais este tempo ao chamar de “tempos modernos” aqueles que excluem a Antiguidade a partir de 1453, com a queda de Constantinopla.
Entretanto, o que fica evidente é a formação de um antagonismo entre o antigo e o moderno e nasce a ideia de que era possível o homem moderno chegar ao conhecimento e à felicidade sem a necessidade da tutela de um Criador. Houve uma ruptura com a Tradição. Saímos do teocentrismo para o antropocentrismo.
Havia um entendimento de que a felicidade estava compreendida pela prosperidade material e pelo progresso das ciências. Ocorre que está questão retornou ao debate filosófico diante do esgotamento das respostas pelas ciências naturais e humanas.
As decepções em relação às promessas da modernidade iniciam pelo seu discurso científico do século VIII. Nota-se que embora com a evolução da ciência esta nada tem a dizer em relação à vida, seu valor e também à realização espiritual. Também as ciências políticas que avocaram para si encaminhar a felicidade coletiva redundaram nos totalitarismos do século XX. O discurso moral também faliu, pois ele tornou individual e opcional redundando no individualismo e no hedonismo que caracterizam nossas sociedades.
Essa situação esta levando muitos pensadores a indagar se estamos indo “Rumo ao Abismo?”, como Edgar Morin que sustenta que a crise da modernidade tem seu começo na problematização nascida e aprofundada pela própria modernidade que se voltava para Deus, a natureza e o exterior agora se volta para a própria modernidade. Embora ela tenha produzido novos saberes, que revolucionaram o conhecimento, simultaneamente, se desenvolveram capacidades gigantescas de morte.
Na mesma esteira vamos encontrar Gilles Lipovetsky que afirma que tínhamos uma modernidade dilacerada e limitada e agora temos uma modernidade consolidada e reconciliada consigo mesma e seus princípios fundadores, caracterizando o que chama da hipermodernidade numa segunda fase do individualismo, o individualismo total.
Em outros termos, e nova percepção, Bauman vai nos falar da mudança da modernidade sólida, baseada num conjunto estável de valores, modo de vida cultural e político, para uma modernidade líquida onde tudo é volátil, seja a vida em conjunto como familiar, casais, amigos e afinidades políticas.
O que vemos é que a crise do moderno e do pós-moderno nada mais é do que a crise do próprio homem. Essa crise passa necessariamente pela perda de Deus no horizonte da história. A perigosa encruzilhada é o homem optar por trilhar o caminho das soluções para a sua felicidade em si mesmo. Encontrar o caminho correto não é voltar-se apenas para o sagrado, mas para Deus. Como diz São Paulo em Atos 17, 20 “In ipso enim vívimos et movemur et sumus” (De fato, é nEle que vivemos, nos movemos e existimos).

(texto de José Antonio, originalmente publicado em
http://www.mundoalegraivos.com/2011/06/uma-encruzilhada-perigosa.html)

"Game of Thrones"

As chamadas séries de TV, produto de exportação norteamericano, tornaram-se mania nacional entre os assinantes de canais pagos. Recentemente, o canal HBO transmitiu a primeira temporada da série Game of Thrones, baseada em livro homônimo.
Ambientada em uma terra fictícia e atemporal, alguns dos personagens da série parecem com reis e cavaleiros medievais, espécie de senhores feudais guerreiros. Outros personagens são mais semelhantes aos membros das tribos bárbaras da Antiguidade. Há pouquíssima referência à religiosidade na série; quando ocorre, simplesmente cita os “deuses antigos” e dá a entender que habitam a floresta, em contraposição a outros igualmente adorados, nenhum deles com muita ênfase ou freqüência.

Para quem gosta de séries de aventura, “Game of Thrones” é interessante – tem ação, intriga e traição, cenas de batalha, fala de honra e lealdade. Enfim, tem os ingredientes certos para manter o espectador envolvido com o desenrolar dos acontecimentos e com o destino dos personagens.
Mas também (e por isso quis falar de “Game of Thrones” neste blog) é o retrato do que seria a humanidade sem os valores cristãos.
A série tem cenas fortes de sexo, nudez e violência e faz menção a adultério, relacionamentos incestuosos, pedofilia, estupro e morticínio de crianças, mulheres e idosos, traição e assassinato como se tudo isso fosse não só comum, mas também muito natural.
Se quisermos ter uma ideia de como era o mundo antes do cristianismo; ou, pior, se quisermos saber como poderá ficar o mundo se rejeitar e relegar novamente às catacumbas o cristianismo; então, podemos dar uma olhada em “Game of Thrones”.
É suficiente, para quem não gosta desse gênero, assistir um capítulo, apenas. E poderá facilmente constatar tudo isso.
Esperemos que continue a ser apenas uma série de TV, um mundo existente apenas na mente de quem o imaginou e escreveu o livro. Mas, se olharmos atentamente ao que se passa em nosso redor, poderemos ver sinais, indícios claros de muitas pessoas e grupos que gostariam muito que esse mundo – violento, individualista, egoísta, hedonista, incapaz de produzir pessoas virtuosas – se tornasse o nosso.
Veja mais sobre a série em: http://www.hbo.com/game-of-thrones

(texto originalmente publicado em
http://www.mundoalegraivos.com/2011/07/game-of-thrones.html)