terça-feira, 23 de setembro de 2014

"Adão, onde estás?"

- uma reflexão sobre o livro do Gênesis
e a ruptura entre o homem e Deus


"Onde estás, Adão, que não estás junto de Mim? Onde estás, que fugiste para longe de Mim e te escondeste? Onde estás, que não estás mais Comigo?"
Essa é a pergunta de Deus a Adão. Quando Deus interpela o homem que criara, quando pergunta a Adão - "onde estás?" - está fazendo, ao mesmo tempo, um apelo a que Adão retorne a Ele, para que a criatura volte de novo a estar em comunhão com seu Criador.
Pois Deus é onisciente. Conhece todas as coisas. Sabe, portanto, onde está Adão. E sabe que, em seu coração, Adão já não está mais com Ele.
Deus não pergunta à Sua criatura onde ela está em seu próprio mundo. Também não pergunta a Adão se assumiu suas responsabilidades e uma posição ativa no comando de seu próprio destino. Pois essa seria uma perspectiva puramente imanentista, própria de Adão, mas não de Deus. Porque não existe um mundo que pertence ao homem ou deixado a seu arbítrio, senão aquele que lhe foi dado por Deus.
Não existe, portanto, um "mundo do homem". O que existe é a fuga para longe de Deus, a ferida e a solidão no coração do homem, o rompimento que se aprofunda na resposta de Adão: "tive medo porque estava nu e me escondi". Ao que lhe redargue Deus, lançando-lhe em rosto a sua dependência em relação ao Criador: "e quem te disse que estavas nu?".
Assim começou a rebelião do homem, a fuga motivada pelo medo, o desejo frustrado da autonomia impossível; que só terminaria quando o novo Adão, elevado na cruz e exposto em Sua completa nudez, revestisse novamente os homens pecadores de sua dignidade de filhos de Deus.
Novamente em um jardim, Deus pergunta: "onde estás?" Mas agora é Jesus, o Homem-Deus, o Filho do Homem, o novo Adão, quem responde: "eis-me aqui" (cf. Hb 10,5-7). Não há mais medo, não há mais fuga: "eis-me aqui, meu Pai, com os filhos que me deste" (cf. Hb 2, 10-12).
Em Cristo - somente nEle - realiza-se a nossa reconciliação com Deus de modo pleno e em seu sentido mais profundo. NEle, Jesus, o Verbo feito carne, o homem volta a estar com Deus e reencontra sua origem e seu centro.

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