Nos funerais do Bemaventurado Papa João Paulo II, como na Missa de coroação do então recém-eleito Papa Bento XVI, o texto do Evangelho previsto pela Liturgia faz parte do capítulo 21 do Evangelho segundo São João, no qual Jesus pergunta por três vezes a Pedro se este O ama. Na primeira vez, porém, o Senhor pergunta: “Pedro, tu me amas mais do que estes?”.
No curso de seu longo pontificado, João Paulo II nada mais fez do que responder a esta pergunta. A cada passo, em todas as viagens, sob fogo cerrado da mídia internacional, suportando duras críticas, tornando-se vítima de um atentado, a cada Missa celebrada, com todas as suas palavras e também no silêncio e na solidão, o Papa Wojtyla respondia: “sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Como Pedro.
Ao ver Bento XVI iniciar seu pontificado sob a mesma interrogação de Jesus, pensei que devia ser exatamente por este motivo que ele havia sido eleito. Porque, tal como Karol Wojtyla, Joseph Ratzinger amava ao seu Senhor mais do que os outros.
Nestes últimos dias, depois do impacto inicial do anúncio da renúncia do Papa Bento XVI e já tendo lido muitos comentários, alguns comovidos e agradecidos, outros fazendo críticas, lembrei-me bastante dessa reflexão que fiz há quase oito anos atrás, quando Bento XVI apresentava-se ao mundo como um “simples e humilde trabalhador da vinha do Senhor”.
E pensando mais uma vez nessa interrogação de Jesus a Pedro, entendi que, justamente através da renúncia, Joseph Ratzinger responde ao seu Senhor: “sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Como respondeu sempre, durante toda a sua vida e particularmente nos últimos oito anos, com toda a humildade.
A tristeza acompanha estes últimos dias, que têm um sabor de despedida melancólica. Digo adeus a um Papa que aprendi a amar tanto quanto o primeiro que conheci, João Paulo II. Dois grandes homens, dois grandes servos de Deus. De João Paulo II recebi o exemplo da força, do impulso, da coragem, da perserverança, da fé profunda – “não tenhais medo de abrir as portas a Cristo”. E Bento XVI deixa o legado da humildade, do silêncio, da renúncia e da profundidade do amor que verdadeiramente renuncia a tudo, inclusive e principalmente a si mesmo, pelo Amado.
Rezemos pelo Papa Bento XVI, pois foi certamente muito difícil tomar esta decisão, como deve ser angustiante viver estes dias antes da anunciada e efetiva renúncia. E rezemos, neste Tempo de Quaresma, por nossa Igreja e pelos cardeais que agora tem nas mãos a tarefa de eleger um novo sucessor de Pedro. Que o Espírito Santo os ilumine, a fim de que escolham aquele dentre eles que ama a Nosso Senhor mais do que os outros.
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Nos links a seguir, deixo aos leitores do blog sugestões de bons textos e notícias sobre a renúncia do Papa Bento XVI: anúncio oficial, primeiro comentário do Pe. Paulo Ricardo, comentário em vídeo do Pe. Paulo Ricardo, comovente texto de um jovem argentino, comentários sobre a imprensa, um quase furo jornalístico, agradecimento do Deus Lo Vult, perguntas e respostas sobre a renúncia, entrevista com Jacques Le Goff, texto de Ives Gandra Martins, a marca de um papa, os papas que renunciaram.
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