O PRINCÍPIO DE HUMANIDADE
Neste último livro da trilogia composta por "A Tirania do Prazer" (1998) e "A Refundação do Mundo" (1999), Jean-Claude Guillebaud quer descobrir, afinal, em que consiste a humanidade. O que é isso, que é comum a todos nós e que nos permite dizer que somos "humanos", "pessoas humanas"? Sua análise, permeada de realismo e isenção, foge, como ele mesmo diz, do "catatstrofismo apavorado" e do "otimismo beato".
Transcrevo aqui algumas palavras do próprio autor, na apresentação do livro: "Como sempre na história humana, o limiar decisivo que estamos a ponto de transpor abre-se tanto para perigos como para esperanças. Todo aquele que deseja que os segundos predominem deve proibir-se, ao mesmo tempo, de ficar cego e de se tornar imprudente. Com efeito, se um naufrágio nos ameaça, devemos olhá-lo de frente. Não para disso tirar não sei qual discurso apocalíptico, mas para melhor conjurá-lo".
Na primeira parte do livro, Guillebaud analisa o conceito de humanidade e as tendências reducionistas atuais (animal, máquina, coisa, órgãos), para então questionar se o homem não se encontra em vias de desaparecimento. Na segunda parte, traz à luz algumas ideias do século XIX e compara esse modo de pensar com algumas ideologias que hoje voltam ao centro do palco. Na terceira parte, busca caminhos de reconciliação com o humano, apontando dificuldades e desacertos.
O epílogo, mais do que concluir o livro, indica um caminho aberto e aponta para cada um de nós: "O princípio de humanidade, definitivamente, tem como característica ser causa de si mesmo. Ele é poder de se fazer, ou seja, de se escolher. Aquilo que reivindicamos aqui – a eminente dignidade do ser humano, é uma opção, na verdade. Quer se trate de economia, da política ou da tecnociência, 'tratamos o homem conforme a ideia que dele fazemos, do mesmo modo que fazemos uma ideia do homem conforme o modo como o tratarmos'. Essa circularidade remete cada um de nós,portanto, a uma responsabilidade que nenhuma ciência, nenhuma técnica, nenhuma fatalidade mecânica ou genética poderiam eliminar. O princípio de humanidade existe, porque queremos que ele exista. É a essa vontade – obstinada e alegremente dissidente – que precisamos doravante nos consagrar ".
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