quinta-feira, 9 de abril de 2015

Católicos Revoltados?


Tenho visto com preocupação algumas manifestações nas redes sociais, estimulando os fieis católicos que encontrarem bispos e padres supostamente comunistas a dizerem a eles que estão excomungados e que, portanto, podem deixar suas funções e cargos eclesiásticos porque já não têm mais nada a fazer na (ou pela) Igreja.
Penso, em primeiro lugar, que nenhum leigo católico (ou quem quer que seja) pode fazer esse tipo de julgamento. Salvo se alguém - clérigo, religioso ou leigo - manifesta publicamente que é comunista, esta não é uma postura ideológica que pode ser presumida a respeito de quem quer que seja, menos ainda das autoridades eclesiásticas legitimamente constituídas.
Em segundo lugar, ainda que seja inequívoco que o comunismo é uma ideologia condenada amplamente pelo Magistério da Igreja (basta ler, por exemplo, a encíclica Divinis Redemptoris, do Papa Pio XI, disponível neste link do site do Vaticano e que também cita documentos e condenações anteriores do Magistério sobre este mesmo tema) e que leva à excomunhão, quando se trata de uma autoridade eclesiástica faz-se necessário que um processo canônico seja instaurado para que a excomunhão (se houver sentença declaratória nesse sentido) seja tornada pública e produza seus efeitos (perda de cargo, suspensão etc.) e estes sejam por todos conhecidos.
A esse respeito, pode-se recordar aqui a excomunhão recente daquele que ficou conhecido como Padre Beto. Seus pronunciamentos públicos (que não tinham nada a ver com a questão ideológica, mas, sim, com divergências doutrinais seríssimas do Padre Beto, relacionadas principalmente com a moral católica) e o escândalo por eles causado levou seu bispo a tomar a providência de afastá-lo e iniciar um processo que culminou com a sua excomunhão e redução ao estado laical. Essas penas tão severas tinham o objetivo duplo de reduzir o dano espiritual causado pelo Padre Beto aos fieis e levá-lo a um movimento de arrependimento e retorno à comunhão com a Igreja Católica. Como se pôde ver mais tarde, tal não aconteceu...
Tudo o que aconteceu com o Padre Beto foi levado a cabo pela autoridade eclesiástica responsável. Podem dizer alguns que foi demasiado tarde. Mas era a única autoridade legítima para a iniciar e executar esses procedimentos que culminaram com a excomunhão do Padre Beto.
Compreendo perfeitamente as dificuldades que deve enfrentar hoje, muitas vezes, quem deseja ser realmente fiel à Igreja e viver a sua fé. O fiel católico deve conviver com as muitas "criatividades litúrgicas" (talvez fosse melhor dizer "invencionices"); tem dificuldade (quando não, impossibilidade) de encontrar paróquias onde a Missa é celebrada em consonância com o que a Igreja determina; encontra com muita frequência graves infidelidades à doutrina católica; não vê em muitos pastores a preocupação e o zelo devidos ao rebanho que lhes é confiado; não se sente representado pela CNBB; não é minimamente escutado pela hierarquia...
No entanto, ainda que os problemas existam e sejam, muitas vezes, bastante manifestos, há muitos bons bispos e sacerdotes zelosos, que lutam para manter a fidelidade apesar "do vento lhes ser contrário". Talvez sejam apareçam menos, apenas isso; quem sabe, justamente, para poderem continuar exercendo seu ministério com fidelidade sem serem pressionados, cerceados, perseguidos e até injustamente punidos.
A obediência, embora nunca seja fácil, é essencial. Nas circunstâncias descritas, pode chegar a ser difícil ao extremo, porém mais do que nunca torna-se profundamente necessária. E, nestes momentos críticos, a obediência é mais ainda exigida dos fieis leigos, principalmente dos mais esclarecidos.
Se um bispo ou um padre mantém posturas e discursos com cor e sabor ideológicos, cabe ao fiel, no máximo, levar isso à autoridade legítima constituída pela Igreja (que pode ser o padre, o bispo ou, mesmo, a nunciatura apostólica). É direito de todo fiel manifestar aos pastores as suas legítimas aspirações. Mas nunca colocar-se no papel de juiz.
Depois que o fiel manifesta sua inquietação à Igreja, cabe-lhe rezar e esperar. E obedecer, ainda que lhe custe. Por obediência ninguém peca e nem pode ferir a unidade da Igreja. No entanto, quando alguém se proclama juiz de seu pastor legítimo, o que virá em seguida? Pode-se esperar que, depois, comece a criar facções dentro da Igreja. E o que se tornarão essas facções, com o tempo? Novas "igrejas"?
Qual foi, por exemplo, o resultado da desobediência de Dom Marcel Lefebvre, em um passado ainda recente? Divisão e mais divisão. Ruptura e mais ruptura. Quaisquer que fossem as razões legítimas que Dom Lefebvre tinha quando iniciou o processo de rompimento que o levou à desobediência direta ao Papa João Paulo II e à excomunhão (latae sententiae), a partir de sua desobediência essas razões perderam a legitimidade. E a ferida no Corpo de Cristo foi profunda... E perdura...
Retrocedendo bastante mais no tempo, qual foi (e é até hoje) o resultado do cisma de Lutero? Já durante a sua vida a "igreja" protestante começou a se dividir. E, hoje, qualquer um que tenha ideias próprias sobre a interpretação da Bíblia e sobre doutrina cristã poderá proclamar-se "pastor" e fundar a "sua" própria "igreja".
Não queiramos, nós, leigos católicos, provocar, hoje, rupturas e divisões que podem chegar a posturas cismáticas. A Igreja Católica tem a promessa de seu Senhor e Deus que as portas do inferno não prevalecerão contra ela. É o Espírito Santo que conduz a Igreja. E a Barca de Cristo, conduzida por Pedro, chegará ao seu destino, onde lhe espera Jesus Cristo, seu Senhor. Resta saber se, quando isso acontecer, nós estaremos na Igreja ou fora dela.
A mim, tudo parece ser uma questão de fé. Acreditamos ou não na Providência Divina?