quinta-feira, 26 de junho de 2014

A Comissão da Verdade e as Forças Armadas

Não me surpreende, mas desgosta e muito, ver a campanha acirrada promovida pela imprensa em geral para denegrir a imagem das Forças Armadas Brasileiras.
Por acaso, comecei a assistir há pouco a uma entrevista do Ministro da Defesa, Celso Amorim, a Miriam Leitão, na Globo News, já em andamento e que terminou agora.
A postura da entrevistadora, ao contrário do que estou acostumada a ver, foi extremamente agressiva, beirando o desrespeito com a pessoa do Ministro. Não lhe permitia terminar as respostas ou completar os raciocínios e metralhava uma pergunta atrás da outra.
Celso foi tratado como um inimigo, por ser, como Ministro da Defesa, o comandante das Forças Armadas. É, no entanto, o mesmo Celso Amorim que já foi Ministro das Relações Exteriores - tratado, então, com todo o respeito e sem qualquer animosidade.
O alvo, porém, eram as Forças Armadas. Enquanto Celso Amorim até se esforçava por cumprir o seu papel, Miriam Leitão tentava por todos os meios associar aos militares brasileiros a imagem de assassinos e torturadores que desprezam os direitos humanos. Seu objetivo claro era fazer com que o telespectador compreendesse que as Forças Armadas são uma instituição ultrapassada e desnecessária, uma espécie de clube "ultraconservador" (no sentido pejorativo do termo) que insiste em manter valores que já não fazem parte da cultura e da mentalidade da sociedade brasileira (será?).
No momento em que comecei a assistir à entrevista, a entrevistadora mencionava ao Ministro que as Forças Armadas haviam enviado para a Comissão da Verdade um relatório, em resposta a um pedido, feito em fevereiro deste ano, de que fossem feitas sindicâncias para apurar os desvios de finalidade (leia-se "tortura", "prisão ilegal" e "assassinato") de instalações militares durante o período do governo militar (1964-1985). Segundo ela, o tom desse relatório era eminentemente formal, não admitindo a tortura e as mortes ocorridas nessas instalações.
O Ministro, por sua vez, dizia que foram fornecidas respostas, ainda que em tom formal, a tudo o que a Comissão da Verdade havia perguntado. E que as Forças Armadas estão abertas a continuar respondendo se mais perguntas lhes forem enviadas pela Comissão. Mas o tom da resposta foi de defesa, de alguém que se encontra acuado ou, pelo menos, em um papel bastante incômodo - obrigado a defender quando preferia, na verdade, acusar.
Miriam Leitão questionou a validade do ensino dos colégios militares (reconhecidamente as melhores escolas do país), porque seriam transmissores dos valores militares conservadores e ultrapassados; colocou em cheque a finalidade das Forças Armadas; disse que os militares de hoje devem romper com sua história institucional; e chegou a sugerir que as Forças Armadas precisam pedir desculpas à nação brasileira (!!!).
Enquanto isso, de forma bastante débil, o Ministro Celso Amorim fez alguma defesa de seus comandados, lembrando à jornalista que as Forças Armadas tiveram um papel importante na II Guerra Mundial, quando ninguém imaginava que o Brasil precisaria se defender de agressores externos; têm, hoje, um papel importante na pacificação das favelas do Rio de Janeiro (mencionou explicitamente o Complexo do Alemão e a Favela da Maré); e que ninguém pode prever se o país não terá novamente, em um futuro próximo ou distante, necessidade da atuação de suas Forças Armadas; que não podem, portanto, ser descartadas como instituição.
Ao menos, o Ministro discordou da jornalista quanto ao pedido de desculpas. E disse que os militares de hoje não são os mesmos que atuavam no período do governo militar.
Ainda assim, as Forças Armadas não encontraram um defensor em seu involuntário comandante. Nem poderiam. Celso Amorim compartilha plenamente da mentalidade do governo atual de que as Forças Armadas não servem enquanto representarem uma visão de Brasil e de mundo oposta à sua. Enquanto os militares em geral puderem ser vistos como uma força de oposição ao projeto de poder da esquerda, eles são os vilões da história. Só deixarão de sê-lo quando estiverem desmoralizados aos olhos da sociedade brasileira, porque então, esfacelados institucionalmente, as Forças Armadas estarão inteiramente a serviço deste grupo que tenta, por todos os meios lícitos e ilícitos, perpetuar-se no poder, recriando o Brasil nos moldes de Cuba e da Coréia do Norte.
A entrevista que acabei de assistir foi tão imparcial quanto a Comissão da Verdade. Houve tortura durante o regime militar? Claro que sim. Houve mortes, prisões ilegais? Lógico que sim. Mas cumpre esclarecer que houve tudo isso... de ambos os lados. Os grupos armados da esquerda -  TERRORISTAS - seqüestraram, torturaram e mataram, tanto ou mais do que as Forças Armadas. A Comissão da Verdade mencionou isso? Nunca. Nenhuma vez.
Por outro lado, se os militares estabeleceram um governo ditatorial - diga-se (não de passagem) que ouvindo o CLAMOR de toda a sociedade brasileira da época, temerosa da ameaça de um governo comunista no Brasil - seu objetivo era garantir a estabilidade constitucional e, logo que possível, afastadas as ameaças externas (o comunismo soviético - estávamos em tempos de Guerra Fria), restabelecer o regime democrático, marcando novas eleições e a retomando os governos civis.
Quanto aos grupos guerrilheiros de esquerda e os partidos comunistas (então, clandestinos), pensavam em estabelecer no Brasil uma ditadura de esquerda. Por isso lutavam, assaltavam bancos, colocavam bombas em locais onde fatalmente civis inocentes seriam (e foram) feridos ou mortos, seqüestravam e também torturavam e matavam. Seu objetivo nunca foi estabelecer uma democracia no Brasil. Pelo contrário.
O fato é que o governo militar começou a lançar mão da tortura quando a guerrilha, fortalecida e ousada, começou a tornar-se uma ameaça séria, real, concreta. O famigerado Ato Institucional número 5 (AI-5) nada mais foi do que uma resposta as ações da luta armada da esquerda. As Forças Armadas compreenderam, naquele momento, que estavam em meio a uma guerra e que o Brasil inteiro corria o risco de virar território de guerrilha.
Estes fatos são levantados pela Comissão da Verdade? Não. Alguma das vítimas civis - inocentes que estavam no lugar errado e na hora errada - foi ouvida e ressarcida pelos danos sofridos ou pelos familiares que perdeu? Não. Os familiares dos militares mortos no cumprimento do dever (lutando contra os guerrilheiros comunistas) receberam qualquer reconhecimento por parte da Comissão da Verdade? É claro que não.
Não era hora do Brasil ter uma Comissão da Verdade. Não assim, parcial, ideológica, subserviente a um grupo que, aproveitando-se do fato de estar no poder e ter as instituições na mão, faz a sua revanche. A finalidade de uma comissão destas deveria ser apurar os fatos históricos para colocar nos livros dos estudantes do ensino médio brasileiros TUDO o que realmente aconteceu naquele período tal conturbado da história de nosso país. Se não serve para isso, não serve para nada, exceto para criar ressentimento contra as Forças Armadas e (mais uma) divisão na sociedade brasileira.
Uma sociedade dividida, com instituições enfraquecidas e Forças Armadas desmoralizadas torna-se presa fácil de mercenários do poder. Até quando vamos permitir esse estado de coisas?